segunda-feira, 12 de abril de 2021

 Libertem-se!

    Olha só o que a pandemia não fez, me deu um pouquinho de tempo livre e eu resolvi desenterrar isso aqui, meu bom e velho blog! 

    Acontece que ontem eu assisti a um filme* (com a mesma atriz de O Fabuloso Destino de Amèlie Poulan, Audrey Tautou, que diga-se de passagem é uma atriz espetacular!) onde um rapaz que trabalhava fazendo serviços gerais e manutenção num salão de beleza acaba revelando que tem um currículo muito acima do seu cargo, fala 5 idiomas, trabalhou na Unesco, mas ao ser demitido e ter depressão resolveu que não queria mais um emprego com muita responsabilidade, por isso achou aquele seu emprego atual perfeito. Esse não é o mote principal do filme (olha, ou talvez seja, enfim, vou refletir sobre) mas foi o que mais me tocou.

    Eu me identifico muito com isso, eu trabalhava num grande banco, incialmente no call center onde, sinceramente, apesar de um stress ou outro eu tava de boa, meio período, não ganhava tão mal, ótimos benefícios, mas eu não me sentia bem porque eu achava que sofria preconceito de alguns amigos e da sociedade, como uma mulher de 40 anos, formada e com pós graduação trabalha num call center, não você merece mais, você pode mais, você PRECISA mais...e lá fui eu aceitar a indicação para ser gerente numa agência, de verdade isso nunca foi meu sonho pelo trabalho em si, mas eu gostava da ideia do status, olha que chique, sou gerente do banco X! Não durei um ano no cargo, quase enlouqueci, eu simplesmente odiava aquele trabalho, odiava aquele lugar, odiava minha chefe, odiava todas aquelas pessoas que trabalhavam lá, a única coisa que eu gostava era do contato com os clientes mas do contato do meu jeito, não do jeito que o trabalho exigia, o que o trabalho exigia de mim ia totalmente de encontro aos meus valores, aos meus princípios, e isso me machucava diariamente, por fim, fui demitida, que alívio! 

    Ao sair de lá trabalhei como motorista de aplicativo por um tempo, era cansativo mas ainda era bem melhor do que estar no banco, talvez fosse a sensação que eu estivesse procurando a minha vida toda e que não tinha nada a ver com status, era liberdade, a liberdade de ser eu mesma, como eu sempre disse ao sair do banco, dinheiro nenhum no mundo paga a nossa paz. Hoje eu trabalho com atendimento a clientes via chat, ganho pouco é verdade, preciso buscar alguma coisa mais rentável mas nada muito longe disso, meio período, com algum produto com o qual me identifico e sem grandes responsabilidades.

    Mas porque eu resolvi escrever sobre isso agora? Porque eu ainda sinto esse maldito preconceito da sociedade, cada vez que eu falo pra alguém que eu acabei de conhecer o que eu faço eu tenho que contar essa historinha ilustrativa, e eu vejo que isso não acontece só comigo e não acontece só com relação a vida profissional, e eu me pergunto, até quando iremos pautar a nossa vida pelo que os outros esperam da gente? Acredito que esse seja o primeiro passo para a infelicidade! Vejo gente casada sustentando relacionamentos já mortos pelo simples medo de ficar sozinha ou porque casou-se perante Deus, ahhh Deus, isso é um assunto para um outro textão, mas eu acredito que essa interpretação dos ensinamentos bíblicos é tão incorreta, é dito numa cerimonia de casamento que o que Deus uniu o homem não separa e eu acredito piamente nisso, porém nem sempre a intenção de Deus era de te unir ao seu atual cônjuge, acredito em almas gêmeas, mas sinto informar pode ser que você não esteja casado com a sua e o que Deus mais quer é que você a encontre e seja plenamente feliz! Mas, como eu disse, isso é assunto para um outro texto.

    O fato é, será que não vamos aprender nada nem com essa pandemia? Até quando vamos seguir julgando os outros pelos "valores da sociedade"? "Fulana tem mais de 40 anos e nunca se casou, é uma encalhada". "Ciclana diz que não quer ter filhos, que absurdo". "Beltrano, largou o emprego numa multinacional pra vender pão caseiro, é louco", todo santo dia ouvimos coisas desse tipo, vindas de quem nem sempre é feliz dentro dos padrões, mas se conforma, porque é assim que tem que ser! Não, não é, se Fulano quer vender artesanato na praia, mesmo sendo PHd em economia, e é feliz assim, paga suas contas, vive com menos, mas tá feliz, tudo bem! Já dizia o sábio Raulzito: "faça o que tú queres pois é tudo da lei". É assim que deveria ser, porque vocês acham que todos os dias nos sentimos sobrecarregados, frustrados, tristes, desenvolvendo cada vez mais doenças reais como depressão, ansiedade, síndrome do pânico, TOC, etc, com enormes vazios incompreensíveis no peito? Porque não estamos dentro dos padrões da sociedade e não conseguimos estar porque simplesmente não nos encaixamos ali, ou porque estamos dentro dos padrões da sociedade espremidos como gatos em caixas de sapato já que aquele ali não é o nosso lugar. 

    Precisamos nos libertar desses padrões, precisamos aceitar que cada um de nós é feliz do seu jeito e que o meu jeito pode não ser igual ao do Fulano, do Beltrano ou do Ciclano, mas tá tudo bem porque somos únicos em nossa essência. É preciso desapegar até de padrões de quem já está fora dos padrões, por exemplo, esses dias assisti um documentário muito bom chamado "I'm" (tem na Netflix, assistam!), foi feito por um famoso diretor de Hollywood que começou justamente a se questionar sobre a vida, tal qual estou fazendo agora, porém ele questionou muito a necessidade da riqueza, dos bens materiais, até porque ele ficou muito rico devido a seus filmes, e ele conta que hoje mora numa espécie de comunidade, uma residência coletiva e só usa a bicicleta como meio de transporte. Bacana, mas isso é o que deu certo pra ele, entende? Ninguém precisa ir morar numa comunidade hippie e andar só de bike pra ser uma pessoa mais desapegada. 

    Sem pretensão nenhuma, porque quem sou para dar conselhos, mas como amiga eu diria, não existem padrões reais na vida, os seus padrões é você quem os define, existe obviamente o bom senso, não acho legal alguém se dizer desapegado do mundo material e viver apenas da caridade do trabalho alheio, mas isso é uma questão de bom senso. Se pra você status é importante e você é feliz com isso, ok! Se você é solteiro mas quer adotar uma criança, ok! Se você é casado mas não quer ter filhos, ok também! Apenas seja feliz, não deixe que ninguém dite as regras da sua vida, procure se autoconhecer, procure a sua essência, de verdade eu acredito que é aí que Deus vive, na essência de cada um de nós por isso quanto mais nos conhecemos mais somos felizes. Aceite-se! E só aceite o que te faz bem!

Libertem-se!

Gi Piu


*O nome do filme é "Uma Doce Mentira" - Prime Vídeo para quem quiser assistir.

6 comentários:

  1. Que lindo texto, só podia vir de uma pessoa que ama muito sua familia marido filhos e todos

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  2. Pois é ,muitas vezes a cobrança externa é tao grande que chegamos a trazer pra dentro essa cobrança , as vezes esta tudo bem mas pinta aquela duvida sobre estar ou nao contribuindo com nossa parte em algum quadro pessoal ou social ...
    vou ou nao me sentar no trono desse apartamento e apenas esperar?

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  3. Mais um momento Grandioso e Iluminado da sua Graciosa Pessoa 🌹, Belo seu Texto, Pura Perfeição 🌹, nesses indesejáveis Dias. Perfeita 😍

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  4. Isso aconteceu comigo quando mudei de carreira e quando disse que não queria filhos. Foi uma sensação horrível achar que tudo tem um padrão e que você precisa segui-los.

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  5. Isso aconteceu comigo quando mudei de carreira e quando disse que não queria filhos. Foi uma sensação horrível achar que tudo tem um padrão e que você precisa segui-los.

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  6. Delicia de texto, Parabéns. O momento e bem propicio para uma reflexão sobre padroes e valores. Vc tem um Dom incrivel, escreve super bem. Deve explorar esta habilidade.

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